REFLEXÃO SOBRE O TEORIA FREUDIANA; Tempo vs Espaço, Real vs Simbólico, Orgânico vs Psíquico

Este texto é uma adaptação de um trabalho que fiz no curso de psicologia, em psicanálise II. Como foi um trabalho para substituir a avaliação do Interdisciplinar, um trabalho mais “livre”, no sentido de sua forma – apresentação de teatro, slides, vídeos, entrevistas – mantendo a função de compilar os assuntos estudados e apresentar uma reflexão a respeito destes, me senti mais livre para da uma boa viajada pelos caminhos da "filosofização" de Freud. rs
A ideia aqui seria uma reflexão da teoria de Freud, considerando o meu entendimento referente à discussão filosófica desta teoria, tendo como principal norte reflexivo, as ideias de Tempo vs Espaço, Real vs Simbólico, Orgânico vs Psíquico.
Podemos perceber os muitos dualismos encontrados na teoria de Freud, mas, que fique claro, estes dualismos não necessariamente excluem seus opostos, portanto, os versus utilizados acima para demonstrar as dimensões, nada têm a ver com opostos eliminadores, e sim, pontos para reflexão. A tarefa de colocar estas ideias no papel, é algo angustiante, eu diria. Estou pensando nessas relações há tempos. Ao entrar no texto Além do Princípio do Prazer, me pareceu ter ficado mais claro tal reflexão. Bom, arrisco-me a seguir, e espero me fazer claro.
A ideia de tempo e espaço para Freud, não é linear. Não segue uma sequência cronológica. Para o inconsciente, o “entendimento” sobre o que é o tempo em relação ao espaço, não segue o mesmo funcionamento do nosso pensamento consciente. Freud dá pista concreta sobre isto, ao trazer a ideia de Kant:
Neste ponto me permitirei abordar brevemente uma questão que mereceria tratamento aprofundado. A tese de Kant, segundo a qual o tempo e o espaço são formas necessárias de nosso pensamento, pode hoje ser submetida a uma discussão, devido a certos conhecimentos psicanalíticos. Vimos que os processos psíquicos inconscientes são “atemporais” em si. Isto significa, em primeiro lugar, que não são ordenados temporalmente, que neles o tempo nada muda, que a ideia de tempo não lhes pode ser aplicada. São características negativas, que apenas se fazem compreensíveis quando comparadas aos processos psíquicos conscientes. Nossa abstrata ideia de tempo parece derivar inteiramente do modo de trabalho do sistema P-Cs, correspondendo a uma auto percepção dele. Com esse modo de funcionamento do sistema poderia ser tomado um outro caminho para a proteção contra estímulos. Sei que tais afirmações soam obscuras, mas tenho que me limitar a indicações desse tipo. (Freud, 1920. P 140)
Trazemos agora a ideia, muito repetida por Freud e defendida por muitos filósofos, de que a palavra é a morte da coisa. (Hegel, 2003) precisa sua posição na Fenomenologia do Espírito: no capítulo VII, ele argumenta que a compreensão conceptual da realidade empírica funciona como um assassinato. Quando utilizamos a linguagem, trocamos a coisa pela palavra; o simbólico passa a ocupar o lugar desta. Também, outra forma de mortificar a coisa, é que, ao nomear, exclui-se as tantas outras possibilidades de ser, ela se resume à palavra, e, não mais necessita da presença dela.
Podemos afirmar então, que a palavra não é real, tem o poder de real, mas não o é. A palavre representa o real. (depois Lacan vem nos ajudar a clarear a respeito dessas dimensões - representação). Desta forma, podemos dizer que vivemos simbolicamente a representação de um mundo real. Afirmação que permite que tentemos falar sobre a reflexão do terceiro e último dualismo propostos neste texto. Lembrando que se separa apenas para tornar didático o pensamento, pois, de fato, não há como se separar tais instâncias.
Para tentar discorrer sobre o Orgânico vs o Psíquico, deve-se ter muito bem definido o entendimento entre o Real e o Simbólico, rapidamente discorrido acima. Pensemos que, o orgânico, seria o biológico em si, isto estaria “aquém”, no sentido de anterior, e, “Além” (do princípio do prazer), no sentido de caminho percorrido, ao mundo das significâncias. Inicialmente, éramos pura biologia, um organismo vivo, e só. Ao entrarmos na cultura, no mundo dos símbolos, das significâncias - a transposição de registro - é como se a vida psíquica, que está no plano das ideias, passasse a ter papel importante nos caminhos do vivente. Pensemos na ideia de trauma; o trauma, em si, é o acontecimento, sem significado, ou seja, é o real; o que ele passa a significar, em um próximo momento, estaria ligado ao efeito psíquico, aos significados dos símbolos.
A ideia de repetição para Freud é muito importante para a teoria psicanalítica. É como se vivêssemos em busca do que já foi um dia. Só é bom hoje, o que foi bom um dia. A ideia de castração é, também, ponto importantíssimo para esta reflexão. Ao entrarmos na cultura, ocorre a nossa primeira castração, a morte da coisa. É esfaceladora a entrada no mundo dos símbolos. Eu só me constituo a partir do outro; o Eu, portanto, apesar de ter valor de real, é produção social, ainda que para cada indivíduo.
O que me chamou muito a atenção no texto Além do princípio do Prazer, foi a ideia da repetição por compulsão. Antes, quando falávamos em o Retorno ao próprio eu e a reversão ao eu oposto, falávamos, ainda, no retorno ao simbólico. Já na compulsão, a ideia de “ato”, no sentido temporal de presente, tem a ver com o real, real este anterior ao mundo dos símbolos. A repetição por compulsão tem a ver com o ato em si, ou seja, com o presente. Como para Freud o tempo não segue uma sequência lógica cronológica, o que seria o presente? Seria este mesmo momento anterior à significância? Seria a busca pelo momento pleno, antes mesmo do primeiro significado traumático?
O ato repetitivo, tem a ideia do retorno ao anterior à cultura; anterior à linguagem, ao símbolo. Isso quer dizer, em certa medida, que estamos voltando para o presente. Antes mesmo da linguagem transformar o real em simbólico. Estaríamos, então, em busca do retorno ao que é real.

Referências

Freud, S. (1920). Além do Princípio do Prazer. Viena: EDITORA PSICANALÍTICA.

Hegel, G. W. (2003). Fenomenologia do espírito (2ª ed.). Petropolis: Vozes.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A MINHA INCERTEZA NÃO EXISTE PRA TE CONTRARIAR.

DEUS FALANDO COM VOCÊ - BARUCH DE ESPINOZA.